O vice-presidente norte-americano, J.D. Vance, defendeu hoje a estratégia do Presidente, Donald Trump, para negociar a paz na Ucrânia e assegurou que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia está perto do fim.
“Creio realmente que estamos à beira da paz na Europa, pela primeira vez em três anos”, declarou Vance, num discurso proferido na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), o principal fórum de extrema-direita do mundo, que começou hoje em National Harbor (Maryland), nos arredores de Washington.
Vance elogiou a capacidade de negociação de Trump, que se celebrizou pelo livro “A Arte do Acordo” e que, no primeiro mês do seu segundo mandato presidencial na Casa Branca (2025-2029), tentou acabar com a guerra na Ucrânia e com o conflito na Faixa de Gaza.
“Penso que o que faz de Trump um negociador tão eficaz é o facto de não excluir nada de antemão. Quando vai para uma negociação, diz: ‘Está tudo em cima da mesa’. E, claro, isso espanta a comunicação social norte-americana, que pergunta: ‘Porque é que ele está a falar com a Rússia?’. Bem, como é que se vai acabar com a guerra se não se falar com a Rússia? É preciso falar com todos os envolvidos no conflito”, argumentou.
Trump surpreendeu a Europa e a Ucrânia quando, a 12 de fevereiro, falou por telefone com o Presidente russo, Vladimir Putin, e anunciou que tinha chegado a um acordo com Moscovo para iniciar “negociações imediatas” com o objetivo de pôr fim à guerra.
Na terça-feira, na Arábia Saudita, uma delegação russa e outra norte-americana acordaram começar a trabalhar para pôr fim ao conflito e melhorar as suas relações económicas e diplomáticas, o que poderá levar a uma cimeira entre Trump e Putin.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, protestou contra a exclusão de Kiev destas conversações e, nas últimas horas, trocou insultos com Trump, com o norte-americano a chamar-lhe “ditador” e ele a acusar o Presidente dos Estados Unidos de viver numa bolha de “desinformação” com origem na Rússia.
Zelensky reuniu-se hoje na Ucrânia com o enviado especial dos Estados Unidos para a guerra, Keith Kellogg, um encontro cujas conclusões poderão ser fundamentais.
Espera-se que Kellogg pressione Kiev a aceitar a proposta que Trump fez na semana passada ao Governo ucraniano: ceder 50% dos seus recursos naturais a Washington, especialmente minerais essenciais e terras raras para o desenvolvimento tecnológico, como compensação pela ajuda passada.
Como Zelensky explicou na quarta-feira numa conferência de imprensa, o acordo não inclui qualquer garantia de que os Estados Unidos continuarão a apoiar a Ucrânia, o que levou o seu Governo a não o assinar.
Segundo Vance, a Rússia tem uma “enorme vantagem” no campo de batalha, que se manterá por mais pacotes de ajuda militar que o Ocidente continue a enviar à Ucrânia, e lamentou que durante estes três anos de guerra ninguém tenha avisado os ucranianos de que “não tinham hipótese de vitória”.
“Os russos têm uma enorme vantagem numérica na Ucrânia, em termos de efetivos e armamento, e essa vantagem persistirá independentemente de o Ocidente enviar mais pacotes de ajuda”, escreveu na sua conta da rede social X (antigo Twitter), em resposta a um colunista que criticou o Governo Trump pela sua posição no conflito.
“Consideramos que a continuação do conflito é má para a Rússia, má para a Ucrânia e má para a Europa. Mas, acima de tudo, é mau para os Estados Unidos”, prosseguiu Vance, que censurou os aliados de Kiev, incluindo o anterior Governo norte-americano, do Presidente democrata Joe Biden, por não admitirem que não há vitória possível.
Tal como fez a 14 de fevereiro, na Cimeira de Segurança de Munique, criticou também a Europa, que acusou de uma “dependência excessiva” dos Estados Unidos em matéria de segurança.
“Beneficiou enormemente da generosidade dos Estados Unidos”, enquanto aplicava políticas migratórias e de “censura” que “ofendem a maioria dos norte-americanos”.
“Temos de procurar a paz e temos de o fazer agora. O Presidente Trump assentou a sua campanha nisso, ganhou com base nisso e tem razão (…). Nem o moralismo nem a iliteracia histórica guiarão a política do Presidente Trump nas próximas semanas”, rematou o vice-presidente norte-americano, J.D. Vance.