Continuamos a observar, a nível global, perspetivas retrógradas por parte dos responsáveis pela formulação e implementação das políticas de saúde. Estes encaram os recursos humanos na área da saúde – pilar essencial de qualquer organização – e, em particular, a maior classe profissional de qualquer sistema de saúde – enfermagem – como um custo, assumindo erroneamente que um maior número de enfermeiros se traduz, inevitavelmente, num aumento da despesa.
Esta visão desajustada é incompatível com a era moderna em que vivemos. Os responsáveis pelas organizações de saúde devem adotar uma abordagem eficiente e sustentável na gestão dos recursos disponíveis. É fundamental uma perspetiva renovada sobre o Capital Humano na saúde, com particular atenção à classe de enfermagem, que, apesar do desgaste e da desmotivação, continua a investir tempo e recursos financeiros na sua formação e especialização, aperfeiçoando competências para prestar cuidados especializados e de excelência.
É imperativo adotar uma nova visão e uma abordagem inovadora, que invista no capital humano da saúde, reconhecendo o seu contributo não apenas para a qualidade dos cuidados prestados e o bem-estar dos doentes, mas também para a sustentabilidade económica das organizações. O investimento na enfermagem traduz-se numa redução dos custos em saúde, seja pela diminuição do tempo de internamento nos cuidados hospitalares, seja pela promoção de uma população mais saudável, através de estratégias eficazes de promoção da saúde ao nível dos cuidados primários.
Vários estudos demonstram que hospitais com recursos de enfermagem adequados e especializados apresentam menores taxas de complicações, redução de infeções hospitalares e tempos de internamento mais curtos, com impacto direto na satisfação dos doentes e na qualidade do atendimento prestado.
Estes resultados traduzem-se em ganhos de eficiência económica para as organizações, uma vez que permitem uma redução significativa dos custos. É amplamente reconhecido o elevado custo diário de um doente hospitalizado, assim como o impacto financeiro associado ao tratamento de infeções relacionadas com os cuidados de saúde.
Importa, pois, reconhecer o valor económico da enfermagem. Tal exige uma mudança de mentalidade e a erradicação definitiva da ideia errónea de que qualquer pessoa pode ser gestor. A realidade demonstra o contrário. O exercício da gestão em saúde exige formação contínua, visão estratégica, capacidade de comunicação e liderança eficaz, assegurando a tomada de decisões alinhadas com a evolução do setor.
É fundamental que as instituições de saúde sejam lideradas por gestores que valorizem os seus recursos humanos e reconheçam a enfermagem não como um custo que deve ser reduzido, mas como um recurso essencial a fortalecer. Precisamos de gestores sensibilizados para o papel estratégico dos enfermeiros, que, estando na linha da frente dos cuidados, possuem um conhecimento profundo das necessidades dos doentes e dos desafios do sistema de saúde.
Esta mudança de perspetiva – valorizá-los, conceder-lhes maior autonomia e envolvê-los nas decisões – é crucial para a construção de um sistema de saúde mais seguro, eficaz e economicamente sustentável.
O reconhecimento profissional dos enfermeiros não constitui um gasto supérfluo. Trata-se de uma estratégia de eficiência e sustentabilidade dos sistemas de saúde.
Não é possível melhor os resultados em saúde, sem reconhecer o verdadeiro valor dos enfermeiros.