O chanceler alemão considerou hoje “errado e perigoso” Donald Trump negar “legitimidade democrática” ao seu homólogo ucraniano, depois de Trump ter dito que Zelensky é um “ditador sem eleições”, enquanto a ONU garantiu que a Ucrânia teve eleições “devidamente realizadas”.
É “simplesmente errado e perigoso negar ao Presidente Zelensky a sua legitimidade democrática”, reagiu Olaf Scholz, argumentando que o “facto de não se poderem realizar eleições regulares no meio de uma guerra está conforme as disposições da Constituição ucraniana e das leis eleitorais”.
“Ninguém deve afirmar o contrário”, afirmou o líder do governo alemão à revista Spiegel, enquanto a chefe da diplomacia alemã considerou as palavras de Trump como “completamente absurdas”.
“Se não se limitasse a ‘tweetar’ (publicar na rede social X, antigo Twitter) rapidamente, mas a ver o mundo real, então saberia quem na Europa tem, infelizmente, de viver em condições ditatoriais: o povo da Rússia, o povo da Bielorrússia”, argumentou a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, à televisão pública ZDF.
O gabinete do secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, notou hoje como o líder ucraniano tomou posse após eleições “devidamente realizadas”.
“O Presidente Volodymyr Zelensky tomou posse após eleições devidamente realizadas”, respondeu Stéphane Dujarric, porta-voz de Guterres, após ter sido questionado sobre as acusações de Trump.
Nas redes sociais, Trump considerou hoje Zelensky um “ditador sem eleições” depois de o Presidente ucraniano ter comentado que o homólogo norte-americano estava a ser influenciado pela desinformação russa.
A troca de acusações surge numa altura em que Trump está a negociar com Moscovo o fim da invasão russa da Ucrânia em termos que Kiev diz serem “muito favoráveis a Moscovo”.
Face à invasão da Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, a Ucrânia adiou as eleições que estavam previstas para abril de 2024.
A troca de palavras ocorre depois de na terça-feira altos funcionários dos Estados Unidos e da Rússia se terem reunido em Riade, Arábia Saudita, onde concordaram em negociar um acordo para o fim da guerra.
As autoridades ucranianas e europeias não foram incluídas nos encontros, apesar da insistência de Zelensky nesse sentido.
Mas Trump, que fez campanha com a promessa de encerrar rapidamente a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, reafirmou a sua posição de que Zelensky deveria ter negociado um fim mais cedo.
“É melhor que Zelensky se mexa depressa ou não lhe vai restar um país”, disse hoje Trump.
Hoje, Zelensky tinha respondido às críticas de Trump afirmando que a Rússia é dirigida por mentirosos patológicos e que, como tal, “não são de confiança”, referindo que o Presidente norte-americano vive num “espaço de desinformação” criado por Moscovo.
Zelensky, que foi eleito presidente em 2019, poderia ter concorrido à reeleição em eleições que deveriam ter sido realizadas em março ou abril de 2024, mas que não se realizaram devido à imposição da lei marcial por causa da guerra prestes a completar três anos.