Aqui marco o fim de uma breve, mas intensa, experiência política e parlamentar. Reorganizar a vida e aceitar essa missão teve uma dose de loucura que só a convicção permite. Não foi o receio de me faltar trabalho (quem nunca sentiu esse temor que atire a primeira pedra), nem a ilusão de que a política me levaria a este ou aquele cargo.
Foram muitas as conquistas que passaram despercebidas, assim como os dissabores que a poucos fiz transparecer. Fica o meu apreço aos profissionais da Assembleia Regional que sempre me trataram com gentileza e paciência.
Recomeço, sem ter um lugar cativo, nem “cunhas” e com satisfação pelo que foi alcançado.
Faço um apelo aos candidatos e partidos que voltam a disputar eleições, assim como a quem vai às urnas. “Calma, Calabreso!”
É que continuamos a tratar a política como um reality show. Quanto mais agressivo, mais do contra e mais polémico for, maior a notoriedade e a atenção mediática. Esse modelo de discurso político impede o avanço real. Ainda que se criem condições favoráveis para evoluir, isso só acontecerá com uma mudança de postura. Parece que ninguém quer refletir sobre isto.
Não foi apenas uma, mas duas vezes que os madeirenses deram a possibilidade de demonstrar que a democracia se constrói com diálogo, responsabilidade e para deixar claro que não querem o PSD a governar isolado.
A controvérsia de Miguel Albuquerque surgiu em boa altura para os partidos fazerem aquilo que dominam: usar o tempo de antena com acusações vazias. Em vez de aproveitarem a vulnerabilidade do governo para concretizar reformas estruturais, perderam-se em discursos que, até então, se justificavam com a desculpa da maioria absoluta.
Foram votos de confiança dos madeirenses totalmente desconsiderados pelo hábito de derrubar. É impossível transformar um sistema quando todos estão apenas focados em atribuir culpas aos outros.
O que presenciei reflete o estado da política regional: partidos rejeitarem propostas idênticas às suas, recusarem decretos legislativos que teriam impacto prático para, no final, aprovarem projetos de resolução com o mesmo conteúdo – meras recomendações que o governo pode ignorar. Tudo para não se comprometer e alimentar o discurso da vitimização.
Também assisti à recusa de propostas apenas porque uma proposta sua havia sido rejeitada. Ou rejeitar iniciativas, mesmo quando o proponente aceitou as sugestões para debate em comissão especializada (outro tema que mete medo ao susto).
Intervenções que nada têm a ver com o trabalho em curso e que desviam do essencial. Uma presidência permissiva com a ineficácia e falta de pragmatismo, e que até se diverte com isso.
No final do dia, a política é feita para todos. E todos nós permitimos que continue a ser conduzida desta forma.
A mudança acontecerá quando os partidos deixarem de precisar de criar drama, de incutir medo ou revolta para angariar votos. Quando as promessas de soluções instantâneas deixarem de resultar. Quando quisermos conhecer propostas concretas e bem fundamentadas. Quando o debate, o equilíbrio, a negociação, a cedência, o assumir falhas e corrigi-las, deixarem de ser interpretados como fraquezas.
Não são apenas os políticos que justificam o estado das coisas. Tudo começa na atitude de cada um de nós, do nosso exemplo e daquilo que exigimos.
“Eles” vão moldar-se ao que nos cativa.
Então, “Calma, Calabreso!”
Porque construir implica tempo, paciência e determinação.
Porque o futuro não pode ser decidido com base em espetáculos e sim com uma visão sustentável e de longo prazo.