Aos Alípios!

Sim, eu sei. A medalha ganhou a Jéssica. A menina de sorriso tímido, quente e húmido que vence friamente sobre o gelo e se derrete em lágrimas quando aterra na sua ilha natal! Felicitei-a já no dia da glória! A glória da Jéssica que rola nos Prazeres e roda pelas voltas do mundo, bicampeã europeia em 2022, bronze mundial em 2023, e tantos outros títulos que não cabem neste espaço. A jovem que, numa noite de novembro, me explicou com enorme simplicidade: para vencer é “sem pressão”!

Parabéns, Jéssica, és enorme! Hoje não falo mais de ti. Tanto foi escrito, dito e publicado nos últimos dias, que pouco acrescentarei. Mais que te felicitar, agradeço-te pelas alegrias que nos deste, dás e darás!

Falarei da epopeia das rodas ao gelo e, quiçá, da hybris que representa essa epopeia, visionada qual herói épico maior que a vida, que com sabedoria e astúcia, desafia as leis dos mortais. Uma viagem com pouco mais de dois anos, iniciada numa terra subtropical, húmida e quente, que desconhece o gelo. Uma epopeia proposta pelo Alípio Silva, o teimoso obstinado, que continua a perseguir a terra dos deuses: os jogos olímpicos! Dizias-me, Alípio, que das rodas ao gelo era um passo mais fácil de executar do que explicar às entidades regionais que precisavas do apoio do PRAD. Não me perguntes porquê, acreditei em ti. Atravessei-me ao que podia e estava ao meu alcance. Infelizmente, como sabes, constatei que a visão técnica se sobreponha à decisão política. Incompreensível! Não desististe. Guardo as mensagens e aquele café, paradoxalmente, tomado junto ao primeiro órgão de governo próprio da RAM, supostamente o que faz as leis. Não é só no desporto que engolimos sapos e sofremos derrotas silenciosas, amigo Alípio! O resto é público e todos conhecem.

Destaco-te, Alípio, e destaco todos os alípios desta terra. Os inconformados, visionários e lutadores que não se acomodam, seja no desporto, nas artes, na educação, nas tecnologias, desafiam as leis vigentes e incomodam os decisores. Incomodem-nos mais! Os alípios que dormem pouco, não ficam no sofá e não vivem de berço. Vivem de sonhos, desafiam a norma e criam madeirenses maiores que a ilha. Vivem de ordenado, constituem família e dão à região, ao país e ao mundo um mundo que a sua terra desconhece. Parabéns, Alípio e acrescenta mais esta ao rol de títulos e medalhas que esta região te deve. Ninguém vive de receções, entrevistas e votos de louvor.

Estamos em vésperas eleitorais. Tempo de projetar novos horizontes. Ouçamos os alípios, temos muitos em várias áreas. Nem referi a epopeia Madalena Costa. Eles são nosso produto. Netos autonómicos do que sonhamos em 76. São o que os madeirenses quiseram que fossem. Incomoda-nos a nossa criação?! A política é para ousar. Aos técnicos caberá executar! E aos eleitores escolher!

Duas notas finais. Uma para a minha Câmara. Sem pista de gelo e sem capacidade para legislar, encontrou caminho para apoiar a competição… no gelo. Fez-se política! Outra para as marianas, as que ficam! São pilar e amor, carregando na discrição do tempo a família e as dores de quem sonha! És enorme também, Mariana Gouveia Silva!

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