Nas noites mais escuras das nossas vidas, há gente que cuida de nós. Ouvimos os seus passos nos corredores do medo e sabemos que vêm por bem, que trazem o medicamento que mata a dor, a palavra-mão que segura o medo, o gesto-âncora que não nos deixa desistir de lutar.
Em momentos mais vulneráveis, como a doença, em que a nudez da nossa fragilidade fica mais exposta, são os profissionais de saúde (e aqui cabem todos) que nos ajudam a ficar ou a ir (se o tempo é de partidas); são eles que nos ajudam a juntar os pedacinhos de nós que, muitas vezes, a vida foi quebrando e que é preciso colar, para que as angústias sejam mais leves.
E cuidam de nós. Muitas vezes, com um sorriso, outras não. Muitas vezes, com firmeza, outras com o coração nas mãos. E mesmo que a exaustão os tente empurrar para o chão, eles levantam a cabeça e cuidam de nós. Mesmo com dor, muitas vezes, numa luta que é corpo a corpo, olhos nos olhos, coração a coração, eles cuidam de nós. Mesmo sabendo que deixam uma vida (a sua) em casa, à espera do fim do turno, à espera. Mesmo sabendo que não vão poder adormecer o filho e contar-lhe a história da noite; mesmo sabendo que não vão soprar as velas do aniversario dos pais, mesmo sabendo que é Natal e a festa terá de ser feita sem eles, eles cuidam de nós.
Olho para eles e penso coragem, penso amor, no sentido maior que estas palavras possam ter. Olho para eles e penso esperança. E agradeço cada gesto, cada olhar, cada silêncio. Agradeço o seu respeito pela nossa fragilidade. Agradeço-lhes a sua capacidade de sair de si, de ultrapassar o seu próprio medo e a sua própria dor, para cuidar. De nós.
Servem estas palavras para os abraçar. Se, porventura, em algum momento, eles servirem para alguma coisa, por favor levem-nas. Não tenho mais nada, para além do meu agraço e da minha gratidão.