A saída dos EUA da OMS

A decisão dos Estados Unidos da América de se retirarem da Organização Mundial da Saúde (OMS) é um desastre para a saúde global, especialmente se considerarmos que o país é um dos maiores financiadores da organização, contribuindo para, pelo menos, um quinto do seu orçamento. Esta saída enfraquece a capacidade da OMS de responder rapidamente a crises sanitárias globais e compromete a continuidade de programas essenciais de vigilância epidemiológica e imunização, e terá consequências que vão muito além das suas fronteiras. A OMS tem sido, ao longo das décadas, um pilar essencial na resposta a pandemias, na coordenação da cooperação científica e na promoção de políticas de saúde pública eficazes. Ao enfraquecer esta organização, colocamos em risco a capacidade da resposta global a surtos de doenças infecciosas, incluindo os que podem afetar regiões como a Madeira.

A história recente mostra-nos que as doenças transmissíveis não conhecem fronteiras. Além da pandemia de COVID-19, surtos como o de Ébola em África, ou do vírus Zika na América Latina, evidenciam a necessidade de uma resposta coordenada e global para conter ameaças sanitárias. A pandemia de COVID-19 foi uma chamada de atenção clara para a necessidade de uma coordenação internacional robusta, com partilha de dados, financiamento adequado para investigação e resposta rápida a emergências. Mas há outros exemplos mais próximos de nós. A Madeira já enfrentou um surto de dengue em 2012, e este episódio sublinha a importância de manter redes globais de vigilância epidemiológica e resposta.

A OMS tem um papel fundamental na prevenção e resposta a doenças transmitidas por vetores, como são o dengue. Através da partilha de conhecimento, da elaboração de diretrizes e do financiamento de programas de monitorização, esta organização tem permitido avanços significativos no controlo da doença. Com um financiamento reduzido e menor envolvimento dos EUA, o risco de lacunas na vigilância aumenta, podendo comprometer a resposta a surtos futuros.

Na Madeira, onde o turismo é uma das principais atividades económicas, surtos anteriores de doenças como o dengue já demonstraram o impacto significativo que crises sanitárias podem ter na confiança dos turistas e no desempenho econômico da região. Em 2012, por exemplo, o surto de dengue resultou numa queda do turismo. O receio de infeção levou à diminuição das reservas e a uma percepção de insegurança sanitária, evidenciando a necessidade de uma vigilância epidemiológica robusta para proteger não apenas a saúde da população, mas também a estabilidade económica regional.

O que podemos fazer? A solução passa por um reforço da cooperação europeia em matéria de saúde pública, garantindo que a UE assume um papel de liderança na OMS e no financiamento de programas de saúde globais.

Porque a saúde global é um bem comum, e o seu enfraquecimento é um risco para todos. O mundo não pode permitir que interesses políticos comprometam o progresso conquistado nas últimas décadas. A ciência, a solidariedade e a cooperação internacional devem continuar a guiar a nossa resposta aos desafios de saúde pública.

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *