Os fatalistas e os factualistas

Parece que atravessamos tempos complicados, assistir hoje em dia a um telejornal de um qualquer dos inúmeros canais de notícias da nossa televisão é um exercício de inquietação e de alguma desesperança. O mundo parece que anda louco, ou pelo menos quem manda em grande parte dele assim o parece, e pior, não tem qualquer pejo em parecê-lo. Como se não bastassem as vertigens imperialistas de Putin, agora vamos assistir de bancada à demência ianque de um louro bronzeado, isto está bonito… De caminho e em jeito de novela assistimos a conflitos mais ou menos regionais, mais ou menos radicais, todos irracionais, e sem fim à vista. Entre o Senhor e o Profeta, venha o Diabo e escolha. A somar aos noticiários e às breaking-news, sempre em tom grave e alarmista, temos a imprensa que cada vez impressiona e imprime menos, mas que segue religiosamente o guião das congéneres. É como um ruidoso vórtice, que ensurdece e afoga e que leva tudo para o mesmo sítio, invariavelmente, para o fundo. São desgraças após desgraças, se não são as guerras é uma pandemia, é a natureza a revoltar-se e se não vem um tufão, vem um vulcão, pode também ser uma seca ou então uma cheia de proporções bíblicas, está tudo a acontecer ao mesmo tempo e em grande escala, é o apocalipse em directo e com direito a publicidade nos intervalos, mas será mesmo assim? Eu acho que não, e explico.

Na minha opinião, o que assistimos e que lemos diariamente não passa de a uma visão imposta, trabalhada e distorcida para prender o incauto cidadão aos ecrãs e ao papel e torná-lo de forma controlada, um ser pessimista, um ser assustado e inseguro, e de caminho, mais frágil. O cidadão comum, apesar de mais informado está cada vez mais enganado. Hans Rosling, um médico sueco, investigador e um verdadeiro optimista, no seu livro “Factfulness – Dez razões pelas quais estamos errados acerca do mundo – e porque as coisas estão melhor do que pensamos” demonstra cabalmente, contrariando tudo e todos (incluindo os telejornais), que o mundo está a ficar menos pobre, menos doente e menos perigoso do que jamais esteve e nos mais variados temas, tais como, rendimento, saúde, educação e esperança de vida, entre outros. Actualmente, mais mulheres do que nunca terminam o ensino secundário. A maior parte da população mundial vive em países com rendimento médio, sendo que 80% população têm acesso a eletricidade. Nos últimos 20 anos, a percentagem da população mundial a viver em pobreza extrema decresceu metade e a esperança de vida média nunca foi tão elevada. Nos últimos 100 anos, o número de mortes resultantes de desastres naturais caiu para menos da metade. Quase toda a população infantil do planeta está vacinada. Há apenas 20 anos, 29% da população mundial vivia em pobreza extrema, hoje este indicador está nos 9% (para melhorar, claro).

Em português “Factfulness” terá a tradução de factualidade, basicamente será a doutrina de conhecer e compreender os factos, a realidade e os números (os verdadeiros números). Na nossa vida podemos ser factualistas (uma palavra nova), seres pragmáticos e assertivos que têm uma visão informada, critica e pensada do mundo, ou podemos ser fatalistas. O homem ou a mulher fatalista tem uma abordagem menos atenta, mais superficial e distorcida dos temas e considera quase tudo uma questão binária e sempre dividida. Tem também a tendência de exagerar os riscos e ameaças, sobrestimando os perigos imaginários e desprezando os perigos reais. Os fatalistas (porque também são preguiçosos) gostam de aplicar a todos os problemas a mesma solução, ou reduzir todos os problemas a uma única causa. A tentação de procurar vilões, e não as causas é também uma característica do ser fatalista, muitas vezes confundindo a arvora com a floresta e tomando a parte pelo todo. Na política, infelizmente encontramos muitas vezes estes fatalistas, pessimistas por convicção e preconceituosos por vocação, que carregam o mundo às costas e que nunca apresentam soluções. Mas felizmente que também temos os políticos factualistas, que enfrentam a realidade e que resolvem de forma determinada os problemas, e é fatal como o destino, só com estes é que as coisas correm bem, e isto é um facto.

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