Sempre ouvi dizer que o Sistema Nacional de Saúde ou o Sistema Regional de Saúde foi a maior conquista da democracia.
Muito resumidamente, o SNS ou o SRS surgiu com o objetivo de equilibrar diferenças e garantir o apoio na saúde. Antes a prioridade era combater as doenças agudas com acesso rápido a cuidados. Agora enfrentamos a pressão de ter mais pessoas, com mais idade e com doenças mais complexas, numa estrutura que não responde inteiramente a estes desafios.
Doenças crónicas como a hipertensão arterial, a obesidade, a diabetes, a doença cardiovascular ou os cancros não se tratam em consultas de urgência, nem a promoção da saúde materno-infantil e ao longo da vida se faz pontualmente. Precisam de abrangência na avaliação, continuidade nos cuidados, acessibilidade e orientação, ou seja, diagnosticar e tratar adequadamente as doenças existentes, permitindo a recuperação e o retorno a uma vida útil e com qualidade. E no cerne precisamos de uma organização integrada dos diferentes atores, simplificando o sistema e garantindo resposta efetiva às necessidades de saúde dos cidadãos independentemente do local onde se encontram.
Mas mais que estas medidas, não podemos esquecer a componente humana, ou seja, o tacto, o afeto, a humildade e a coragem do cuidado que todos os enfermeiros, médicos e técnicos que trabalham na área da medicina – seja em hospitais ou em centros de saúde – deverão ter com os seus pacientes e familiares. O modo de tratar, de cuidar e de falar, com os seus doentes, muda muito. Não podemos esquecer que acima de tudo somos humanos.
Recentemente, criaram medidas para o SNS, nomeadamente a ligação para a saúde 24 antes de se deslocar ao hospital ou ao centro de saúde, de modo a ser feita a triagem e respetivo encaminhamento. Confesso que considero esta medida absurda e um desastre autêntico que põe em causa, não só a nossa saúde, mas também a dos profissionais de saúde. Nós pagamos impostos para ser possível uma saúde pública. O facto de ligarmos para a saúde 24, sendo que somos atendidos por um algoritmo que “decide” se estamos efetivamente doentes ou não, não responde às nossas necessidades enquanto humanos. Certamente quem criou estes softwares de algoritmos têm médico pessoal e ganham rios de dinheiro. Mas a realidade é que isto é praticamente um convite para que as pessoas entrarem em pânico e correrem fazer seguros de saúde, mesmo não tendo posses económicas para o fazer.
No momento, temos várias notícias a informar que há falta de meios e de médicos na saúde pública. Contudo, não é isso que se trata. Temos uma taxa de médicos suficiente no país. A questão é que a maioria deles não está em exclusividade para o SNS ou para o SRS e passa boa parte do tempo no sector privado, de modo a ter um salário razoável.
Embora na Madeira, as coisas sejam ligeiramente diferentes, olhemos para o país e tentemos aprender algo com isto. Precisamos de uma atitude positiva e proativa, onde cada contribuição seja valorizada, sem duplicações nem desperdícios, percebendo que as soluções de hoje são diferentes do passado porque hoje é o presente e não o passado. Construir saúde é uma emergência regional e nacional que moldará o futuro das próximas gerações. Vamos construir saúde numa região e país que una, sem preconceitos nem idealismos, mas com rigor, ciência e a experiência dos profissionais, respondendo às expectativas dos cidadãos, e promovendo um futuro melhor para todos.
A nossa saúde está em primeiro lugar!
Alexandra Nepomuceno escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.