Era até dizer chega

Crimes de corrupção? Sim, temos. De tráfico de influência? Tivemos, temos e vamos continuar a ter, se tudo correr como planeado. De peculato? Claro que temos. De participação económica em negócio? Temos pois. De roubo de malas? Não tínhamos, mas já temos. É verdade… Não lembra ao diabo, mas lembrou a um tal de Arruda.

Então não é que, segundo consta, um açoriano, e deputado da Assembleia da República, aproveitava as viagens regulares de e para o continente para recolher, do tapete, bagagem que não a sua?! E para quê? Não sei, mas há quem diga que era para depois vender o conteúdo num mercado online de artigos em segunda mão. Bem, ou ele ou a mulher dele… Na hora, o senhor não soube bem explicar. E eu não o condeno. É que, para além de não ser juiz, podia muito bem ser eu a passar pelo mesmo aperto.

Juro, pela minha saúde, que não há vez que viaje e comigo não carregue uma mala de cabine e duas de porão, por cada um de nós! No carro, até ao aeroporto, vão volumes no porta-bagagem, nos bancos traseiros e ainda nos pés do lugar do morto. Podemos até ir só um fim de semana, ok. Mas e se a minha mulher quer meter um salto alto para ir jantar?! Melhor levar um par. Botas até ao joelho que são super tendência? Outro par. E um blazer que vai que o lugar é fino? Um vestido elegante? Ou um fato de treino para um look confy chic? Sei lá. Na dúvida vai tudo.

Para o Caetano cá é fácil… 3 mudas de roupa por dia! Não tem que tirar. E o mais certo é vir tudo para lavar. A Eduarda já não. Raramente se suja. Porém, em contrapartida, não passa sem os cremes da manhã, da tarde e da noite. Muito menos sem o champô e o amaciador, os glosses, as brumas perfumadas, o coffret das sombras, o iluminador, os patches para as olheiras e o roll-on apaziguante. Por sorte ainda não usa rímel. Ufa.

No meio de tanta tralha é, ou não é, possível uma pessoa enganar-se e pegar nalguma mala que não seja a sua?! Claro que é. E quanto a vender coisas usadas, também a minha esposa criou, em tempos, uma conta na Vinted e lá colocou alguns artigos que já não usava. Pelo que sei nunca chegou a vender nenhum… Não que não tivesse tido procura, porém se punha à venda por 20€, ofereciam 10. Se era 10, davam 5. No fundo aquilo era o Santo da Serra, mas online. Com a agravante das despesas de envio serem da responsabilidade dela e do trabalho ser meu. Ênfiim, furça na blica Miguiél. Isse nã pássa di úma camála. Perdião, cabála. Estâmes jiuntes mê cuirisque mal âmanháde.

E por falar em estar junto, esta semana li que uma associação de apoio a homens e rapazes vítimas de violência sexual tem recebido, todos os meses, cerca de 10 novos pedidos de ajuda. Chocante. Mais, nos seus 8 anos de existência, já ajudou mais de 800 abusados e, segundo o seu responsável, nos primeiros sete anos a média de idades dos mesmos era de 38/39 anos. Assim sendo, podia muito bem ser eu. De repente dei comigo a pensar na aflição que não deve ser passar por isso… Mas não consegui. Isso deve ser mais uma daquelas coisas que só mesmo quem passa é que sabe. Palavra de honra.

É que eu, Pedro, ser vítima de “stalking” (perseguição insistente)? Deus me livre, mas quem me dera. Na verdade, elas diziam sempre para eu ir andando à frente que depois iam lá ter… Só que nunca iam. Por vezes eu ainda voltava atrás, mas era tarde. Nem vê-las… Assédio sexual no trabalho? Puff. Pior ainda! A 1.ª coisa que dizem, mal põem o pé no consultório é: “não leve a mal, mas detesto dentistas”. Ok, pronto. Há que respeitar. E em contexto de atividades desportivas? Impossível. Pelo sim, pelo não, não arrisco. Não me ponho a jeito e ponto. No sofá ninguém me viola. Bem, pensando melhor, cala-te boca… Era até dizer chega.

Pedro Nunes escreve, ao domingo, todas as semanas.

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