«Oligopólio, Plutocracia e Cleptocracia: Tudo coisas boas para os “stakeholders”»Jim Cramer
No final da II Guerra Mundial (1939-1945), a Europa, estava gravemente afetada pela destruição da sua capacidade produtiva e pelo número de baixas, a braços um profundo processo de reconstrução; O Japão tinha acabado de sofrer uma pesada derrota, que resultou na sua rendição incondicional, no desmembramento do seu império no Pacífico e conduziu a Ásia a um processo de reconstrução e industrialização semelhante.
Os Estados Unidos da América (EUA), que tinham participado ativamente na Guerra em vários cenários e que, com a exceção do ataque a Pearl Harbour, no Hawai, viram o seu território poupado, emergiram vitoriosos e com a sua capacidade industrial intacta.
O Presidente Harry Truman e o seu Secretário de Estado George Marshall, cientes das condições internacionais favoráveis, da ameaça da União Soviética e do sucesso da política de investimento público do New Deal do seu antecessor F. D. Roosevelt, implementaram a que ficou conhecida como Doutrina Truman, que passava pelo Plano Marshall de apoio à reconstrução da Europa, pela Organização o Tratado do Atlântico Norte, e por uma ONU forte, uma mistura de instrumentos de Soft Power e Hard Power ”implícito”, que afirmaram os EUA como superpotência capaz de conter a emergência da União Soviética.
As três décadas seguintes ficaram conhecidos no mundo dito Ocidental, como os “30 anos dourados” em que assistimos a um enorme e continuado crescimento económico e social. Este ritmo foi travado pelos choques do petróleo de 1973 e 1979 e por uma mudança de política económica, por parte de Reagan nos EUA e Thatcher no RU.
Estas mudanças, com cortes no estado social e em direitos laborais como resposta à crise económica, normalmente apelidadas de neoliberais, permitiram uma maior concentração de riqueza em muito menos gente e levaram a uma maior assimetria de poder entre dois dos principais fatores de produção, capital e trabalho.
Normalmente os Estados tendem a reequilibrar essa relação de poder através da regulação, criando o que Acemoglu e Robinson (Prémios Nobel em 2024) definiram como “um estreito corredor” do equilíbrio de forças entre Sociedade e Estado onde se verifica o maior progresso. Mas se não o fazem a tempo as consequências podem ser imprevisíveis.
Começa-se por assistir à chamada “deslocalização” das indústrias mais trabalho-intensivas para zonas do globo onde os direitos laborais são mais fracos. Seguindo a humorada citação de Jim Cramer, que abre este artigo os países de pendor autoritário cleptocrata são sempre mais “interessantes”, e não há grandes problemas: o dinheiro não costuma ser barrado nas fronteiras.
Com a superconcentração de riqueza e a transnacionalização, os centros de decisão económica são hoje, supranacionais (e com as criptomoedas nem sequer precisam de estados ou bancos centrais como plataforma fiduciária).
O poder económico escapou-se da regulação, o último resquício de controlo político.
Sem dimensão e sem soluções de poder efetivo à vista, a tendência dos estados mais pequenos é entrar-se num efeito yo-yo em que oscilam entre um maior laxismo e uma tendência autoritária isolacionista.
Mas os hipermilionários de hoje estão prestes a ir mais longe. Nas condições certas é possível financiar um qualquer populista, mais ou menos errático, ao ponto de o ter na mão, pendurado por fios invisíveis.
Para os homens mais ricos do mundo a questão nem sequer é para ficar mais rico, ou por ser divertido ou uma questão de mérito.
É porque podem. E querem que Mundo o saiba.
Mas não pensemos que isto só se passa do outro lado do Atlântico. Por cá vemos os fios invisíveis que procuram manter um moribundo político no poder.
Se não acordarmos, se não mudarmos já, agora, bem podemos calçar as pantufas e ficar a assistir em direto ao despertar de mais Plutocracias.