Médio Oriente: Guterres alerta que anexação da Cisjordânia seria grave violação de Israel

O secretário-geral das Nações Unidas referiu que “altos responsáveis israelitas estão a falar abertamente sobre uma anexação formal de toda ou parte da Cisjordânia nos próximos meses”.

O secretário-geral da ONU avisou hoje que qualquer anexação israelita da Cisjordânia seria “uma violação muito grave do direito internacional” e pediu que a UNWRA seja autorizada a trabalhar, além da entrada de jornalistas na Faixa de Gaza.

“Estou profundamente preocupado com a ameaça existencial à integridade e contiguidade do território palestiniano ocupado de Gaza e da Cisjordânia”, declarou António Guterres durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Médio Oriente.

O secretário-geral das Nações Unidas referiu que “altos responsáveis israelitas estão a falar abertamente sobre uma anexação formal de toda ou parte da Cisjordânia nos próximos meses”.

Estas declarações de Guterres no Conselho de Segurança acontecem no mesmo dia em que Donald Trump toma posse para um novo mandato na Casa Branca (presidência norte-americana) e em que começa um novo ciclo nas relações de Washington com Israel.

Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), Donald Trump apresentou um plano que previa a anexação de quase 30% da Cisjordânia e, já depois de eleito nas últimas presidenciais, em novembro de 2024, indicou Mike Huckabee, muito próximo dos círculos pró-colonatos israelitas, para embaixador em Israel.

Reiterando o seu apoio a uma solução de dois Estados, “com Israel e a Palestina a viverem lado a lado em paz e segurança”, António Guterres apelou também para um “esforço coletivo”, no sentido de permitir “a reunificação efetiva de Gaza com a Cisjordânia, nos níveis político, económico, social e administrativo”.

Saudou ainda como um “raio de esperança” o acordo de cessar-fogo que entrou em vigor na Faixa de Gaza no domingo, juntamente com a libertação de reféns.

“Agora as partes devem respeitar os seus compromissos e implementar o acordo na íntegra. Peço às partes que garantam que este acordo conduza à libertação de todos os reféns e a um cessar-fogo permanente em Gaza”, disse Guterres, a respeito da aplicação do entendimento entre Israel e o grupo islamita Hamas, ao fim de 15 meses de guerra no enclave palestiniano.

O secretário-geral das Nações Unidas instou, por outro lado, Israel a permitir o trabalho da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês), que no final do mês será severamente restringido por ordem do parlamento israelita, bem como a entrada da imprensa internacional na Faixa de Gaza, que Israel proibiu desde o início da guerra com o Hamas.

A UNRWA “deve ser capaz de executar a sua tarefa sem obstáculos”, defendeu ainda Guterres junto do Conselho de Segurança durante a sessão trimestral dedicada à situação no Médio Oriente.

O antigo primeiro-ministro português insistiu na urgência de ser permitida a entrada de ajuda humanitária no território, como alimentos, água, medicamentos, combustível, abrigos e materiais de reconstrução, o que implica acesso irrestrito, incluindo “vistos e autorizações”, outra questão que Israel vem adiando há largos meses.

Guterres apelou aliás aos membros do Conselho de Segurança que fizessem tudo o que estivesse ao seu alcance para “garantir a responsabilização” pelo que aconteceu durante a guerra.

Sobre o pós-guerra na Faixa de Gaza, pediu a “intensificação dos esforços para decidir sobre um quadro de governação e segurança” e reiterou que a Autoridade Palestiniana disse estar pronta para “assumir o seu papel e as suas responsabilidades” no enclave.

O conflito em curso foi desencadeado por um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 47 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.

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