“Tudo na vida tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu: Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar…” Eclesiastes, 3
Mais de 300 crónicas/contos insularados ao longo de sete anos. Foram muitas histórias contadas, personagens imortalizadas. Houve uma ilha que acompanha todos os que saem, mas que nunca deixam de estar rodeados pelo mar, que vai de Machico às Desertas e se perde na linha do horizonte que não se esquece. Houve lágrimas e emoção. A despedida da mãe, que se foi, mas nunca deixou de estar entre nós. A mãe terra, a mãe luta, a mãe valores, a mãe sempre e para sempre.
Luto, catarse, memória, infância. Os cheiros, sempre revisitados, o banho a que se ia na praia das Fontes, as voltas do sábado, a missa do domingo, com roupa própria e banho tomado de véspera. Houve o sino da paróquia, que tocou para a chamada das festas do verão, mas também ecoou, pesaroso, no “sinal morto” que nunca ninguém queria ouvir. Houve os que foram e voltavam, os que vão e não voltam mais. A água de giro e as levadas, a ruralidade de quem ia à cidade de quando em vez. Luas cheias, luas novas e a lua certa para a agricultura. Goiabas, abacates, araçás, maracujás, broas de mel, bolo preto e pão quente. As vizinhas bilhardeiras. Os homens da taberna. Dores de corpo de alma. Canalha aos molhos, como o alecrim e regionalismos vários, alguns quase circunscritos a Gaula, que também esteve sempre por aqui. Na vindima, no largo do cemitério e dos nossos sonhos, nos natais que eram comunitários, nas lapinhas, nas luzinhas e cabrinhas, na melancolia de janeiro. Houve intempéries e desgraças. Incêndios, inundações e a pandemia pelo meio. Loucos e sãos. Bucho virado e massagens, azeite de baga de louro e maus augúrios. O bordado no terreiro e as estações do ano todas, umas atrás das outras. Homenagens a quem marcou e não se esquece.
Houve risos, mensagens de quem já não se lembrava e gostou de ler. Comoção, recordação, alegria. Houve o livro Contos Insularados, que reúne uma parte do que isto foi e tantos regressos a casa e ao lugar de conforto que é a nossa infância. A apresentação no Teatro Municipal e em Lisboa e aquele encontro com os leitores ao domingo, de quem nunca se desligou dos jornais.
Mas tudo na vida tem um tempo. E este chegou ao fim. Esta rubrica encerra-se, mas espero voltar em breve, com outros contos e pontos a acrescentar.