Expliquei já que o Sistema Político da Constituição de 1976 não é uma Democracia – o poder do Povo – mas uma partidocracia – o poder dos partidos políticos. Madeira incluída.
Também já aqui escrevi que, estando o poder nos partidos políticos, estes vêm sendo objecto de sucessivos assaltos. Nomeadamente por parte de uma mediocridade que, com cobertura partidária, tem assim acesso a um poder que, num escrutínio não monopolizado pelos partidos, jamais estaria ao seu alcance.
Mas também já demonstrei que são elevados os custos de manutenção desta partidocracia, pelo que ela tem de recorrer ao sustento pelos grandes grupos económicos com interesse no controlo do poder político.
Assim, não vivemos em democracia porque esta transformou-se em partidocracia. Como esta partidocracia acaba subordinada à plutocracia, o poder político passou a alguns grandes grupos económicos.
Ao ponto de acabarem por controlar, não só partidos no poder, mas tudo o que de principal no xadrez do pluralismo partidário.
Todos recordam-se como os meus Governos tiveram sempre uma forte Oposição de grupos económicos predominantes no sistema económico-social da “Madeira Velha”.
Lógico, porque de uma Revolução Tranquila se tratou.
Lógico, até porque o modelo de Desenvolvimento Integral então estrategicamente estabelecido, inclusive com recurso a capitais que existiam na Diáspora Madeirense, passava por todo o apoio legalmente possível à construção de uma nova preponderância económica MADEIRENSE. Nalguns casos com condições de expansão fora da Terra-Mãe.
E, nisto, é peça fundamental também o Centro Internacional de Negócios, que anda a ser deixado cair por subordinação vergonhosa do Estado português a interesses estrangeiros concorrentes.
E por subordinação, igualmente vergonhosa, do poder político regional ao Estado central.
Felizmente que, durante os meus Governos, cumpriram-se as regras do jogo exigidas que, no interesse de todos, passavam por uma rigorosa independência entre poder político eleito e grupos económicos, apesar da estratégia delineada. E passava também por uma luta, quer por MAIS AUTONOMIA para a Região, quer por travar ou obstaculizar interferências ou desrespeitos ilegítimos por parte de sectores da Administração do Estado central, ou até de Bruxelas.
Também aqui já expliquei os três vectores principais a que recorreram poderes sediados em Lisboa, alguns destes “ocultos”, para destruir o que aqui montáramos. Primeiro, enfraquecer o PSD Madeira/Partido da Autonomia, hoje só PSD.
Segundo, rebentar o BANIF, apoio financeiro fulcral dos Governos da Madeira e dos Açores. Terceiro, com espectáculos mediáticos, desprestigiar, através da perpetuação de suspeitas nunca comprovadas, as Instituições, Políticos e Empresários Madeirenses, inclusive sacrificando quem teoricamente lhes fizera o papel de “idiotas úteis”.
A Madeira debilitada como expliquei, não teve, nem hoje tem, capacidade para enfrentar as referidas provocações colonialistas.
A mediocratização dos partidos locais contaminou toxicamente as próprias Instituições e o seu funcionamento.
O Parlamento – agora quase todo reconduzido – não só desceu ao ponto de aprovar um “voto de pesar” por um animal, como se demonstra incapaz de legislar, sobretudo incompetente em matérias fundamentais e inadiáveis.
E o mais gritante, é que à Oposição não interessa um PSD unido, Autonomista e Social-Democrata porque, face à mediocridade indiscutível daquela, resultariam novas maiorias absolutas. Então entrou no jogo de fritar o PSD “renovadinho” em lume brando, até ver o que as coisas dão…
Mas do que li de Ciência Política e do muito bom que aprendi no Exército sobre Informação, ContraInformação e Acção Psicológica, quando acontecimentos importantes vão em breve ocorrer, a racionalidade manda definir qual é o “inimigo principal” – em linguagem democrática o “adversário principal” – e agirmos estrategicamente na lógica desta definição.
Evidentemente que todos sabem que eu não subscrevo a política do Governo Regional da “renovação”. Por causa do modelo que nos vem retirando Qualidade de Vida; que vem destruindo a Classe Média; que é eleitoralmente batoteiro através da subsidiodependência e da tachodependência; que provoca mais pressão inflacionista e sobre os Serviços Públicos; que foi um desastre em Habitação; que não provoca uma distribuição justa da riqueza gerada, eterniza a pobreza e protege arbitrariamente interesses corporativos; que desde há dez anos não alarga os poderes autonómicos, etc., etc.
Contudo, esta má-governação pode a seu tempo ser substituída e corrigida por Autonomistas Sociais-Democratas.
Claro que não por esta oposição incompetente, sem visão, sem ousadia e com as mesmas dependências.
Importante, neste momento, é percebermos que o ADVERSÁRIO PRINCIPAL são as estratégias de Lisboa e os seus organismos de Estado que desenvolveram todo aquele plano que atrás apontei, pretendendo retirar força à Autonomia Política conquistada pelo Povo Madeirense.
Aqueles que nos ofenderam com operações recorrentes a meios militares, desacreditadas por decisão judicial, mas que estão a manter um clima de desprestígio e de suspeita sobre a Região Autónoma e as nossas Instituições. Aqueles que desde há dez anos não operam uma única transferência de competências políticas para a Madeira, juntos com os seus cúmplices de cá. Nomeadamente não satisfazendo as reivindicações entregues no Parlamento Madeirense para estruturar e sustentar o futuro da Região Autónoma.
Estes é que são o ADVERSÁRIO PRINCIPAL.
Cabe a cada um de nós saber defini-lo.
E actuar em conformidade, quando do que se seguir.