Recentemente, foi notícia a devolução à natureza de mais de 1.300 caracóis pertencentes a duas espécies endémicas das Ilhas Desertas, julgadas extintas por mais de 100 anos. Esta notícia foi largamente difundida não só pela imprensa regional e nacional, mas também pela imprensa internacional, com reportagens na Sky News e BBC News. Esta reintrodução no Ilhéu do Bugio, foi realizada pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM (IFCN) em parceria com o Zoológico de Chester, sendo o culminar de anos de trabalho técnico e científico mútuo, sustentado pelo restauro dos ecossistemas locais, após a erradicação de espécies invasoras o que voltou a tornar seguro a reintrodução destes moluscos. Um esforço que sublinha o papel do IFCN na proteção do património natural do arquipélago madeirense.
Este projeto é apenas uma das inúmeras iniciativas que refletem o compromisso do IFCN com a conservação da natureza. As Ilhas Desertas, verdadeiros bastiões de biodiversidade, têm sido palco de intervenções continuadas. O lobo-marinho, uma das espécies de focas mais raras do mundo, encontra aqui um dos seus refúgios, graças a medidas rigorosas de proteção e monitorização. Paralelamente, a freira-do-bugio, ave marinha endémica e criticamente ameaçada, beneficia de ações específicas, ao abrigo de programas como o LIFE Freiras, que também abarca a Freira-da-Madeira, e que procuram assegurar a conservação das áreas de nidificação e a mitigação de ameaças.
Nas Ilhas Selvagens, outro símbolo da riqueza natural do arquipélago, o trabalho de conservação procura proteger áreas extraordinariamente importantes para a nidificação de aves marinhas, como a cagarra e o calca-mar, cujas colónias são das maiores e mais densamente povoadas do mundo. Nestas áreas protegidas procura-se conciliar a conservação de ecossistemas terrestres e marinhos em excelente estado de conservação, com a gestão sustentável do território, permitindo que, sob regras exigentes, se possa conciliar a visita do espaço com a salvaguarda dos seus valores naturais. Não é por acaso que, as ilhas Selvagens e as ilhas Desertas, são as únicas áreas protegidas do país galardoadas com o Diploma Europeu para Áreas Protegidas, concedido a áreas naturais de importância europeia que se destacam pela sua conservação e gestão exemplar da biodiversidade.
No Porto Santo, a criação da Rede de Áreas Marinhas Protegidas sublinha o compromisso com a conservação dos ecossistemas costeiros e marinhos únicos da ilha. Sob a gestão do IFCN, estas áreas asseguram a proteção de habitats sensíveis, promovendo a sustentabilidade ambiental e o equilíbrio entre a preservação da biodiversidade e as atividades económicas locais.
Olhando para a Madeira, a Floresta Laurissilva, classificada como Património Natural da Humanidade, é testemunho da importância da conservação a longo prazo. Aqui, a proteção não se limita à biogeodiversidade – é também uma garantia de que serviços de ecossistemas essenciais, como a regulação hídrica e a prevenção da erosão continuam a beneficiar os madeirenses.
Apesar destes esforços, reconhecidos internacionalmente, infelizmente os projetos de conservação nem sempre são facilmente compreendidos. Talvez, porque o seu impacto raramente é imediato, uma vez que podem implicar alterações em práticas enraizadas, ou porque o trabalho técnico e científico que os sustenta é pouco visível ou pareça pouco intuitivo à primeira vista. Por vezes, é mais fácil questionar do que procurar entender, maldizer do que respeitar, ou mesmo desvalorizar o trabalho rigoroso e dedicado de técnicos experientes.
Os resultados falam por si. Não são poucos os exemplos de sucesso que, fruto do trabalho do IFCN, têm colocado o Arquipélago da Madeira como referência internacional na proteção de áreas protegidas e conservação dos seus valores naturais. O desafio da conservação não é apenas técnico ou ambiental, é também social e político. E é aqui que reside a importância de um debate informado e responsável, que valorize o esforço coletivo e respeite quem se dedica a esta missão com conhecimento e paixão. Podemos – e devemos – debater a conservação, mas é fundamental que o façamos com responsabilidade e sabendo do que falamos. Somente assim garantiremos que o nosso património natural continue a ser uma herança viva para as próximas gerações.