Um empresário da região de Aragão, nordeste de Espanha, financiou a reconstrução de um pórtico da igreja do século XII da sua aldeia natal e acabou retratado numa pintura no teto como sendo São Mateus, para indignação da população.
Entre imagens de santos padroeiros da igreja e da pequena localidade de Latre, no teto do átrio exterior da Ermida de São Miguel, uma igreja românica de inícios do século XII, há uma que nos últimos dias se espalhou pelas redes sociais e pelos meios de comunicação em Espanha: a pintura identificada como sendo São Mateus, mas cuja cara é a do empresário Eduardo Lacasta, de 82 anos.
A igreja é propriedade da Diocese de Jaca, que disse não ter recebido qualquer pedido de autorização para serem feitas as pinturas no teto do átrio.
Segundo a diocese, o pórtico foi recuperado há cerca de 20 anos por iniciativa e com financiamento de Eduardo Lacasta, numa intervenção que, ao contrário do que aconteceu agora, teve autorização para ser feita.
“Quando fazes as coisas com boa intenção, entendes que não vais ter nenhuma oposição. Sim, é verdade, enganei-me em não pedir autorização e já me desculpei, lamento-o na alma”, disse hoje o empresário ao jornal El Mundo.
Eduardo Lacasta, um empresário da área do imobiliário que foi há anos condenado a uma pena de prisão efetiva por fraude, acrescentou que as pinturas foram feitas num teto e telhado reconstruídos há duas décadas, numa área do edifício em que “tudo é betão”, com “20 anos e não 400, como se tem dito”.
Quanto à inclusão da sua própria cara na pintura, disse que “os santos não têm imagens, inventam-nas os pintores”, e foi uma iniciativa do artista que contratou.
“Ele decidiu que esse santo se pareceria mais comigo”, afirmou, acrescentando: “Também não se matou ali o São Mateus…”.
O caso saltou para as notícias em Espanha nos últimos dias por causa de uma denúncia enviada às autoridades autonómicas de Aragão, uma carta anónima cuja autora diz ser “historiadora da arte” e que sublinha, no texto, que “o património não é propriedade privada” e “deve ser respeitado como um legado coletivo”.
“Em última instância, o ato de Lacasta representa uma falha na nossa capacidade de proteger e valorizar os nossos monumentos históricos”, lê-se na denúncia.
Segundo disseram à agência EFE as autoridades do governo regional de Aragão, a igreja não tem uma classificação de Bem de Interesse Cultural, pelo que eventuais medidas a tomar cabem ao proprietário, a Diocese de Jaca.
Ainda assim, a Direção-geral de Património do executivo aragonês enviou ao local peritos e pôs-se em contacto com a diocese.
O responsável pelo departamento de Património da diocese, Jesús Lizalde, disse estar a ser recolhida informação, incluindo junto do artista que fez as pinturas, para averiguar os materiais usados, e assegurou que será posteriormente tomada uma decisão, juntamente com o governo regional.
Segundo o autarca local, Primitivo Grasa, as pinturas no teto do átrio da igreja estão feitas há meses e não eram consensuais entre a população, mas a indignação “explodiu” quando se descobriu, mais recentemente, o rosto do empresário entre as imagens.
“Ainda por cima, a representar um santo”, disse Primitivo Grasa, ao El Mundo.
O padre local, Iván Duque, contou ao Diario del Alto Aragón que, na primavera passada, Eduardo Lacasta lhe disse que pretendia pintar o teto do átrio e que lhe respondeu que o empresário teria de pedir autorização à diocese.
“Como aqui não se celebra missa habitualmente, só quando em outubro tivemos aqui um funeral é que me dei conta de que se tinham feito as pinturas. Fiquei surpreendido porque a diocese não me tinha avisado”, explicou.