O último mês do ano obriga sempre o PSD e os seus militantes a recordar o pai fundador do partido, Francisco Sá Carneiro, dada a devida homenagem que é feita pelo país inteiro no dia 4 de dezembro, data do acidente de Camarate. As páginas das redes sociais enchem-se de imagens e citações de Sá Carneiro num ritual que deveria apelar aos princípios fundadores da social-democracia portuguesa. Será que esses valores ainda abundam no PSD de hoje?
Ao terminar este mesmo mês de dezembro é tempo também de fazer um balanço de um partido crucial ao sistema democrático português. Mais ainda quando mais de metade do ano esteve no poder executivo de Portugal.
Depois de quase nove anos em oposição, num contexto particularmente difícil no que diz respeito aos equilíbrios parlamentares, a maioria relativa da AD na Assembleia da República deveria primar pela clareza de ideologia. Ao invés, vemos um confuso ziguezague partidário.
É um PSD que viabiliza uma resolução que recomenda ao Governo Regional dos Açores que altere as regras de admissão nas creches, clara e propositadamente estigmatizando os filhos de pais desempregados. Em total contramão com aquilo que deveria ser uma bandeira do PSD, nomeadamente o papel do Estado enquanto elevador social.
Um PSD cuja primeira preocupação ao formar governo foi devolver a esfera armilar ao logotipo da sua correspondência e manter os cadernos de saúde azuis e rosa. Como se isso resolvesse qualquer questão prática da vida dos cidadãos. Responder aos excessos woke na mesma moeda priorizando-os só piora a situação. Pede-se maior concentração, por exemplo, na resolução do problema das urgências hospitalares que foram – e bem!- tema de campanha, agora submersas na confusão da linha SNS24.
Como é que um partido como o PSD não só assiste impávido à operação policial no Martim Moniz, como aceita a defesa securitária da mesma que o primeiro-ministro tem usado nas diversas comunicações ao país sobre o tema?
O “não é não” de Montenegro ao Chega está progressivamente a se transformar num Frankenstein político em que é dito “não mas sim” ao Chega. Numa práxis em que um PSD ora se mascara de liberal, ora de direitista securitário. Se a imagem dos imigrantes encostados à parede pela PSP junto ao Martim Moniz causa indiferença ou até concordância em qualquer militante social democrata, esse cidadão deveria ponderar das duas uma: ou está equivocado na militância social democrata, ou Luís Montenegro está a tentar regredir o partido para junto da extrema direita. Mas uma coisa é certa: entre o original ou e a cópias, o eleitor escolhe sempre o original. Nada que não se tivesse antevisto nas últimas internas do PSD a nível nacional em 2022. Não há satisfação nenhuma em ter razão antes do tempo, devido às consequências gravosas deste tipo de atuação que discrimina de forma desproporcional a comunidade imigrante no nosso país.
Juntando a isto o branqueamento político que o PSD nacional faz à atual liderança do PSD Madeira, que vai desde o fechar dos olhos ao inicial tango íntimo do mesmo com o Chega até à candura com que olham para a moção de censura na ALRAM que fez cair o governo regional e os constantes atropelos à democracia interna, então temos uma total ausência de espinha dorsal no funcionamento de um partido. Talvez já era tempo do PSD aprender a lição de que dar a mão um dia ao Chega para garantir a sua sobrevivência implica estar sujeito a uma moção de censura do mesmo Chega no dia seguinte.
Que 2025 traga de volta os princípios éticos e ideológicos de Sá Carneiro ao PSD.