A compatibilidade com algo ou alguém tem muito que se lhe diga. Na política, por exemplo, a compatibilidade é cada vez mais momentânea. Hoje está tudo bem, amanhã nem por isso. E o mesmo se aplica no plano da incompatibilidade, que é resolvida com um ou outro acordo de circunstância.
A compatibilidade política é quase um quebra-cabeças. Se não, vejamos… É difícil perceber o que move um individuo a aceitar um cargo de confiança política, como fez António Trindade, e pouco depois apadrinhar um movimento que abomina a orientação que aceitou assumir e defender. Terá sido coisa do momento?
Mas é igualmente pouco percetível a opção de Rafaela Fernandes, que afastou apenas um dos elementos que integraram a lista de Manuel António Correia e deixou outros, como o seu chefe de gabinete, no pleno desempenho de funções. Porque o raciocínio da perda de confiança política não se aplica apenas a uns e não a outros. E o tal delito de opinião, que tanto temia o candidato vencido nas diretas social-democratas, não pode evidentemente abranger apenas um dos apoiantes que integravam o gabinete de Rafaela Fernandes. Ou a opinião de Trindade vale mais do que a dos outros?
Mas afinal quais foram as questões pessoais que afastaram a governante do seu adjunto? A questão, pelo menos para já, fica sem resposta, o que, politicamente, é muito pouco aconselhável por estes dias.
Parece claro, aliás, que o verbo refletir foi efetivamente pouco conjugado ultimamente. Por que razão Rafaela Fernandes não esperou pelo epílogo de um governo que está em vias de ser substituído? Que ganha o seu gabinete – e o próprio PSD-M – com o precipitar de um desfecho que se concretizava sem ‘empurrões’ dentro de dias? À primeira vista, não se conhecem proveitos notórios, mas percebe-se, por outro lado, que este desiderato pode efetivamente acentuar a divisão entre os apoiantes de uma e outra candidatura às recentes eleições internas.
Torna-se evidente, portanto, que será um PSD-M fragilizado que irá enfrentar as eleições de 26 de maio. Embora conte, igualmente, com o conforto de o principal adversário estar também cada vez mais fraturado, como demonstra a iniciativa promovida por alguns socialistas, que pretendem pensar o partido por fora, sem a participação dos que por ora estão dentro a comandar o navio.
Antecipa-se, por isso, um ato eleitoral com margem para outros crescerem, aproveitando essencialmente os deméritos dos adversários e a insatisfação crescente.
Chegamos, pois, aos 50 anos de Abril em plena convulsão democrática. Com governos a caírem como folhas no outono, uns atrás dos outros, arrastando consigo a credibilidade dos agentes políticos, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa, que continua embrulhado no caso das gémeas luso-brasileiras. O que lhe vale é que não há outro Marcelo… caso contrário iria de férias mais cedo…