Clive Humby, reputado matemático inglês, ligado também às questões dos dados e da estratégia, fez em 2006 uma afirmação que ficaria famosa pelo seu impacto: “os dados são o novo petróleo”. Tratou-se na altura, hoje talvez com maior propriedade, de colocar de forma destacada o facto de os dados serem, no atual contexto mundial, um recurso valioso. Não só a importância de saber gerir e explorar os dados nas organizações, como o seu conhecimento e posse ser fator de valorização e reconhecimento.
Os dados são informações extraídas, organizadas e analisadas, com o propósito de gerar conhecimento relevante para apoiar as decisões estratégicas dentro de uma organização. São mesmo essenciais para o sucesso, crescimento e sustentabilidade de qualquer organização pública ou privada. São um dos ativos mais valiosos. Atualmente, e quando bem utilizados, tornam-se uma ferramenta poderosa para orientar decisões táticas, operacionais e estratégicas, permitindo em muitos casos transformar estratégias em resultados e promover inovação, sendo claramente uma vantagem competitiva. É por isso reconhecido que será na devida perceção dos dados, na organização, que se reduzem os “achismos”, se aumenta a assertividade, se tomam decisões onde as evidências são analisadas, mitigando riscos e desperdícios, antecipando falhas, fraudes e crises.
Hoje, com tudo que vamos assistindo de advento do mundo digital, e em todos os domínios, aquilo que se pode ligar com esta realidade dos dados assumirá um fator de relevo ainda mais acrescido. Aliás, legitimamente, vem colocando-se neste debate se a IA não substituirá de vez o papel humano?
Sem alimentar esta discussão, longe de se poder considerar esgotada, menos ainda neste curto espaço de reflexão, devemos ter em conta que objetivamente a execução de programas nos computadores e o denominado processamento de informação no cérebro humano, constituem processos distintos e não comparáveis. De resto, se no computador se executam as chamadas instruções, e de forma sequencial, e se recorre aquilo que são os dados guardados na memória; num cérebro a informação flui de forma distribuída através de milhões de neurónios, que guardam e recuperam as memórias e processam os dados recebidos. Não existe aqui uma unidade central de processamento, nem qualquer programa, guardado em memória, executado passo a passo.
Embora fatores como tecnologia, infraestrutura e processos de análises analíticas de dados sejam relevantes, são as pessoas, e as suas interações, que fazem mover as organizações e permitem o seu crescimento e inovação. Não deixa, pois, de ser sintomático e devidamente sustentada a posição de todos que relevam o facto do dever de compreender o papel das pessoas dentro das organizações e isto ser fundamental para o sucesso assertivo destas. Aqui, o contato assenta na linguagem e esta, como dizia Octávio Paz (Nobel em 1990), “é a linguagem que nos faz humanos”. Linguagem para comunicar, para pensar, para raciocinar e para expressar sentimentos e emoções. Os fundamentos da inteligência humana e do ser senciente.
Pelo que, relevante nas organizações, continua sendo a sua cultura organizacional, que nada mais é do que o reflexo do comportamento, dos valores e das atitudes das pessoas. Uma cultura sólida, baseada em respeito, colaboração, valorização e propósitos de reconhecimento, fortalece o ambiente de trabalho, resultando em equipas mais produtivas e comprometidas.
Como já discorremos antes neste espaço, a ideologia gerencialista vem invadindo os debates sobre o seu conteúdo. Agora, não deixa de ser defensável, é nossa posição de princípio, mesmo sabendo-se que pode parecer iconoclasta apresentar a gestão gerencialista como uma ideologia, refletir como esta deve apenas reconduzir-se à sua vocação primacial de racionalizar, de forma pragmática, o funcionamento das organizações.