Vários representantes de marcas automóveis em Portugal assinalaram hoje que o cumprimento das metas de descarbonização do setor é difícil de atingir até 2035, tendo ainda pedido apoio para a eletrificação.
“Acho que podemos dizer que toda a indústria automóvel há muitos anos investe na descarbonização, em reduzir a sua pegada ambiental em investimentos atrás de investimentos, em reduzir os consumos das viaturas”, afirmou o gestor da Stellantis Portugal, Pedro Lazarino, no Fórum do Retalho Automóvel, em Lisboa, acrescentando que “tem sido um investimento de anos”.
Num painel sobre a eletrificação e os veículos chineses, Pedro Lazarino assinalou que tem havido “uma curva abrupta para a redução da pegada” associada às emissões automóveis.
O responsável do grupo em Portugal apontou que a solução para a descarbonização pode não ser apenas com automóveis exclusivamente a bateria (BEV).
“Todos nós, como mercados da Europa, deveríamos estar com 20% de BEV. Os países que estão acima dos 20% representam 13% do mercado total da Europa, e há dois ‘offenders’ [incumpridores], que são Itália, com 5%, e Espanha, com 9%”, atirou.
Na opinião do gestor, “enquanto Espanha e Itália estiverem a esses níveis, a eletrificação e as metas de 2025 não vão ser possíveis”.
Já o diretor-geral da Renault Portugal, José Pedro Neves defendeu que deve haver várias medidas para combater o envelhecimento do parque automóvel, como um incentivo ao abate, mas também “mexer na fiscalidade”.
“Foi em 2010 o último incentivo decente ao abate, porque tivemos um incentivo agora, mas que nem sequer é consumido. Acho que essa é uma das primeiras questões, e depois há uma questão de fiscalidade, também”, acrescentou.
No entender do responsável da Renault Portugal, impostos como o Imposto Sobre Veículos (ISV) e contribuições agravadas consoante a cilindrada dos motores são más políticas, por exemplo, em modelos com motorizações híbridas.
O CEO da Mercedes-Benz Portugal, Holger Marquardt, assinalou que é preciso “ajuda do Governo” no campo do abastecimento e na expansão da rede de carregamento, mas saudou “coisas muito positivas”.
“Precisamos de usar em Portugal a hipótese da eletrificação e há coisas muito positivas”, afirmou o responsável, que abordou a diversificação na produção de energias renováveis, mas também o que considerou ser um mecanismo simplificado na rede.
Apesar das mudanças no setor automóvel, o diretor-geral da Caetano Automotive Portugal, que tem a distribuição da chinesa BYD, Ricardo Lopes, registou que o modelo de distribuição destas marcas no mercado português tem assentado numa forma mais tradicional.
“As marcas chinesas que nós representamos acreditam em modelos de distribuição assentes em modelos de proximidade, assentes numa rede de concessionários que assegura as vendas, assegura a pós-venda”, afirmou.
O Fórum do Retalho Automóvel, organizado pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP), tem como tema “Conduzir a nova mobilidade”.
No ano passado, o parque automóvel português continuou a ser dominado por veículos com mais de 20 anos, com cerca de 1,5 milhões de automóveis a circular no país em 2024 – o equivalente a perto de 25%.